no fim de 2023, comecei a treinar jiu-jitsu.
não foi por impulso, nem por moda, foi por uma mistura de insegurança, necessidade de mudança e uma conversa com um velho amigo — Arthur Itabaiana.
ele treinava desde novo, desde criança, eu sabia que podia confiar nele para colher uma informação relevante, então, cheguei e disse:
me convença a fazer jiu jitsu e não muay thai, ele respondeu de forma simples, mas marcante:
— você é um cara de extrema inteligência. jiu jitsu seria o casamento perfeito.
essa frase ficou.
não pelo elogio, mas pelo convite: tentar algo que exigia mais do que força física.
ps: não é história apenas para te trazer emoção, a prova está abaixo:
insegurança
vou lhe contextualizar um pouco:
viver no rio de janeiro é experimentar insegurança como parte da rotina, não é um evento isolado, não é uma “fase ruim”.
é estrutural.
é atravessar a rua olhando para trás.
é evitar andar com fone no ônibus.
é esconder o celular assim que sai de casa.
é criar hábitos não para viver melhor, mas para correr menos riscos.
e quando você convive com isso por tempo demais, começa a se acostumar, e esse é o perigo.
eu não queria me tornar alguém que vive em alerta constante. queria pelo menos saber que, se um dia algo acontecesse, eu não estaria completamente perdido.
o jiu-jitsu apareceu nesse contexto: como uma tentativa de construir confiança.
não uma confiança exibicionista, de quem quer se impor, mas uma confiança passiva, de quem sabe que sabe algo — se precisar.
só que o que encontrei foi bem maior que isso.
no tatame, não aprendi apenas a me defender. aprendi a resistir, a respirar sob pressão, a observar, a se adaptar. cada movimento exige mais do que técnica — exige controle emocional.
e esse controle começa a se alocar fora do tatame.
na forma como você responde a alguém que te corta no trânsito.
na calma que você tenta manter diante de uma situação tensa.
na forma como lida com seu próprio medo.
porque o medo não desaparece, mas ele para de te engolir.
cair é educativo
nos primeiros dias, o que mais me marcou foi o cansaço. não só físico — mas mental. você precisa pensar o tempo todo: onde está sua base, onde está o peso do adversário, o que vem depois. é como um xadrez de corpo inteiro.
não existe espaço para vaidade ali. no jiu, você se frustra rápido — porque erra muito.
você acha que está indo bem e, em segundos, é finalizado. acha que entendeu a posição e descobre que ela exige mais dez detalhes.
e isso te ensina.
ensina que errar é inevitável. e mais: ensina que você não precisa se esconder por errar. todo mundo erra, até quem está ali há anos. o que diferencia alguém com experiência é o quanto essa pessoa aprendeu com os erros — não o quanto evitou errar.
nos primeiros treinos, me senti ridículo (isso é comum)
me atrapalhava com a faixa, com os nomes dos golpes, com a respiração.
ficava sem ar em dois minutos, ficava sem graça de não saber, mas para minha surpresa: ninguém estava rindo de mim.
percebi ali uma coisa que eu nunca tinha vivido com tanta clareza:
ninguém está prestando atenção em você do jeito que você pensa.
essa é uma lição que carrego até hoje.
para aprender de verdade, você precisa aceitar o lugar do iniciante.
mudanças
quando comecei, queria apenas me sentir mais seguro.
aos poucos, fui percebendo mudanças no meu humor, no meu sono, na minha rotina. mas também fui percebendo mudanças internas: passei a reagir de outra forma aos conflitos, a lidar melhor com frustrações, a reconhecer limites.
eu, que sempre fui reativo, percebi que estava respirando antes de responder.
eu, que sempre me cobrava por fazer tudo certo de primeira, entendi que a evolução exige repetição.
eu, que achava que confiança era uma pose, vi que ela é, na verdade, uma prática silenciosa.
o jiu virou parte da minha semana, da minha identidade. não como performance, mas como sustentação.
em 2024, participei do meu primeiro campeonato, e perdi :) nada mais prova o que eu falei do que isso.
porém, fui para o segundo poucos meses depois e ganhei.
mas, mais do que o título, o que me marcou foi a lembrança do começo.
lembrar de mim mesmo, com medo de errar, tentando parecer pronto.
e ver que, mesmo errando, eu fui, e continuo indo.
comece algo novo.
:)
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com carinho,
Hugo César de Ruído Silencioso.
Aqui, encontro uma dose de reflexão semanal. Muito bom!
Minha vontade de fazer jiu só aumenta.